quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Petrobras: a construção midiática de uma pauta negativa eleitoral


É absolutamente inacreditável que a Petrobras esteja sendo utilizada pela mídia e pela propaganda tucana como exemplo de má gestão do governo do PT.
Digo inacreditável porque bastam alguns cliques na internet para comprovar que essas notícias são falsas.
O próprio O Globo, em 29 de agosto último, teve que reconhecer que, no final do governo tucano de FHC, em 2002, a Petrobras possuía um valor de mercado de US$ 15,4 bilhões (01) e que agora, em outubro de 2014, ela valia US$ 116,3 bilhões (02), o que inclusive a fez retornar à condição de maior empresa da América Latina.
O valor da Petrobras, portanto, cresceu sete vezes e meia no governo do PT em relação ao tucano. Por conta disso, ela, cuja colocação no ranking mundial das empresa era acima do centésimo lugar, pulou para a quarta colocação em 2010 (dados da Wikipedia).

Em 2011, a Petrobras tornou-se a quinta maior empresa petrolífera do mundo. A partir de 2010, se consideradas somente as empresas de energia, passou ao segunda lugar do mundo em valor em valor de mercado (idem).

Pelo menos desde o ano de 2006 vem apresentando lucros gigantescos. Veja o quadro abaixo:
Ano
Lucro líquido (R$ bilhões)
2013
23,57
2012
21,18
2011
33,31
2010
35,19
2009
28,98
2008
32,99
2007
21,7
2006
25,9
2005
23,7
2004
17,9
2003
17,8
2002
8,1
2001
9,87
Observação: a origem das informações está referenciada no item (3) ao final do artigo.
A diferença entre os governos do PSDB e os do PT no que concerne à lucratividade da Petrobras é absolutamente gritante. Logo no primeiro ano do governo petista, 2003, o lucro saltou para o dobro, triplicando em 2005. Entre 2008 e 2011 quadruplicou. Depois, em 2012 e 2013 houve um recuo, mas ainda assim foi pelo menos o dobro do que era no governo tucano.
Como em qualquer outra empresa, em alguns anos o lucro é menor do que no anterior, em outros maior. Mas basta o lucro ser menor para virem as manchetes estridentes com o propósito de passar a falsa ideia de que variação negativa de lucro confunde-se com ausência de lucro ou prejuízo.
Aliás, a redução do lucro em alguns anos pode ser creditada aos altos investimentos realizados pela Petrobras. Para o quadriênio 2014-2018 está previsto um investimento da ordem de mais de 220 bilhões de dólares, ou seja, cerca de 55 bilhões de dólares por ano. Com isso, tornou-se uma das maiores empresas investidoras em produção do mundo e aqui está se falando de todas as empresas e não somente das petrolíferas.
Outra bronca da imprensa decorre da manutenção do preço da gasolina. Aqui, mira-se exclusivamente no benefício dos acionistas, uma grande parte deles formada por especuladores estrangeiros. Deixam de considerar que o povo sofre ao pagar uma gasolina caríssima. Porém, a Petrobras ainda é uma empresa estatal, que pertence majoritariamente ao povo. Se um dos seus propósitos não for beneficiar o povo, para que tê-la? A gasolina já é cara e a Petrobras dá lucro. O povo deve beneficiar-se disso.
Numa outra frente de combate de nossa imprensa aguerrida de um lado só, critica-se o preço das ações da Petrobras. Qualquer baixa é motivo para sugerir uma suposta incompetência petista, embora se saiba que nenhuma empresa controla o mercado de ações, que é flutuante mesmo. O máximo que uma empresa pode fazer é dar lucro aos acionistas, na forma de dividendos, e esse papel a Petrobras tem cumprido. O curioso é que, quando a flutuação é favorável, retornando a ação ao valor normal ou até aumentando, publica-se uma notinha lá no fim da página de economia. Na verdade, nenhuma empresa pode garantir que todos os anos baterá recordes de lucratividade. Isso sequer é compatível com os princípios do capitalismo e do livre mercado.
Essa espetacular lucratividade da Petrobras inclusive derruba a velha máxima de que empresas com capital público sempre são mal geridas e dão prejuízo.
Mas, não adianta. Mesmo dando lucro e crescendo, criam-se situações de escândalo, como o caso Pasadena, um negócio de 2006 ressuscitado próximo à eleição. Coincidência, não? Mais recentemente, veio à tona o caso do diretor que recebia propina, denúncia também afinadinha com o calendário eleitoral.
Quanto à Pasadena, a imprensa martelou insistentemente um prejuízo inventado, de mais um bilhão de dólares, embora uma análise isenta demonstre que o negócio teria sido bom, não fosse o percalço inesperado da crise econômica americana de 2008, que devastou a economia do mundo inteiro. Tenho um amigo que investiu todas as suas economias numa financeira também em 2006, viu o seu negócio alavancar de uma forma extraordinária e, de súbito, infelizmente, tudo desmoronou em 2008. Ele não estava errado em investir no que investiu. Ele teve um bom faro e tudo indicava que era uma excelente oportunidade. Houve, simplesmente, um evento fora do alcance de qualquer previsão. O mesmo ocorreu em Pasadena.
E o prejuízo está longe de ter sido de mais um bilhão, como apregoam as manchetes tendenciosas. Para chegar a esse número, os "experts" somaram tudo o que a Petrobras gastou desde a compra, inclusive adequações nas instalações, além do preço correspondente aos estoques existentes na refinaria quando da compra. Estoque é mercadoria a ser vendida, é ativo, não é prejuízo. Reforma não tem nada a ver com o preço da compra. Houve prejuízo, sim, mas é muito provável que não chegue aos quinhentos milhões de dólares, se considerados os ativos adquiridos. Ainda assim é um valor alto. Todavia, corresponde a cerca de um por cento do total de investimentos da Petrobras e, considerado o tamanho gigantesco dos investimentos, é natural que algo dê errado, o que não significa improbidade. E o prejuízo é meramente suposto, pois Pasadena continua a ser da Petrobras e sabe-se que já está dando lucro novamente.
Quanto ao atual caso de corrupção na Petrobras, que envolve um ex-diretor da empresa e um doleiro, precisamos lembrar que o ex-diretor possui relações com a empresa desde 1979 e já ocupava cargos de direção na Petrobras no governo de FHC, desde 1995. Por pressão política de parlamentares, Lula o nomeou em 2004. E ele já estava desligado da empresa há mais de dois anos quando o escândalo veio à tona, sendo ridícula a menção que se faz da "carta de recomendação" a ele dada quando de sua saída. Trata-se de procedimento rotineiro e anterior à ciência dos fatos. E o que deve fazer uma empresa quando fica sabendo que um diretor, já desligado, apropriou-se de patrimônio da empresa? Ora, realiza o boletim de ocorrência policial e solicita a devida investigação. E o procedimento criminal já está sendo realizado. Isso não tem necessariamente nada a ver com o presidente da empresa ou com o presidente do país.
Mais uma vez, constrói-se uma pauta midiática negativa e clamorosa às vésperas de uma eleição.
Curiosamente, esquece-se completamente do maior caso de prejuízo potencialmente causado por frouxidão na gestão da Petrobras. Trata-se do escandaloso afundamento da plataforma P-36 em 2001, ocorrido durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. A P-36 era a mais cara e maior plataforma de petróleo da história do mundo até então. Custou, à época, 350 milhões de dólares. Hoje, facilmente chegaria à casa de um bilhão de dólares. Ainda assim, as manchetes da época em nenhum momento vincularam uma possível incompetência de FHC ao episódio. Após o choque do dia do acidente, seguiu-se um acompanhamento morno pela imprensa, geralmente em pequenas reportagens nas páginas internas dos grandes jornais, apesar de ter sido comprovado que o acidente foi causado por erros de projeto e de manutenção, ou seja, problemas de gestão.
É assim que funciona a imprensa brasileira, confessadamente o maior partido de oposição do Brasil. Para essa imprensa, não é motivo de manchete um candidato a presidente que dirige intoxicado, sem habilitação e se recusa a fazer o teste do bafômetro. Se descumpre as leis mais básicas, irá respeitar as mais severas? Tampouco é motivo de manchete esse mesmo candidato construir dois aeroportos, com o dinheiro público, para atender interesses particulares. Fez isso em Minas, o que fará com o Brasil?
Nada disso é errado.
Errado é ser o autor da nomeação de uma pessoa, dentre milhares, que posteriormente veio a se revelar desonesta. Ah, isso não tem perdão.
Fontes:
(03) tabela de lucros da Petrobras:
(dados de 2006 a 2013 extraído da Wikipedia em 21/04/2014 de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Petrobras)
(dado de 2004 extraído do site da Folha de São Paulo em http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u93816.shtml)

Texto originalmente postado em abril de 2014 e atualizado em 16 de outubro de 2014.

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