segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Conheça!



Sou motociclista e entre nós, amantes das duas rodas, é célebre o pensamento segundo o qual, numa viagem de moto, o que interessa não é o destino, mas o percurso.
Viajar de moto é sentir o prazer em cada curva, no vento no rosto, na paisagem em rápida mutação. Claro que chegar é importante, mas, para nós, percorrer é muito mais.

Há um paralelo entre essa forma motociclística de pensar e a filosofia. Sim, porque para os filósofos as respostas não são tão importantes quanto a maneira de obtê-las. Ainda que, ao final do processo de busca do conhecimento, se conclua pela inexistência de resposta à indagação, o mero processo de busca terá valido a pena e enriquecido o ser humano, pois a inércia do conhecimento será rompida pelo surgimento da pergunta e forçará o uso da razão e a aquisição de elementos para a formação da convicção.
Tudo isso pressupõe o não-conformismo do ser indagante ao conhecimento estabelecido, às verdades convencionadas. E é justamente entre a indagação e a conclusão que está pavimentada a estrada do conhecimento, de cujo percurso brota o prazer diletante da mera aquisição.
Segundo Sócrates, a vida irrefletida não vale a pena ser vivida. Com isso, queria ele dizer que, para ser digno de ser humano, a pessoa deve aprender a refletir criticamente sobre as coisas à sua volta. Não agindo assim, qual a diferença para um animal irracional?
E se a pessoa, sem pensar, adere à verdade assumida pela maioria, somente por um espírito de pertencimento, por integrar uma comunidade, ao agir assim, em que exatamente ela se difere dos insetos sociais, como formigas, abelhas e cupins?
Filósofos divergem em praticamente tudo, porém, definitivamente nenhum deles declararia impudentemente que a unanimidade pressupõe a verdade. Aliás, o fato de pensadores de alto nível, como os filósofos, divergirem com frequência assombrosa, nos faz refletir seriamente sobre a viabilidade da existência de algo que se possa chamar de verdade ou mesmo de realidade. Seria a realidade apenas um sonho, como sugeriu o filme Matrix, depois das sombras de Platão?
Mas a existência dessas múltiplas verdades, tantas quantos são os filósofos, também nos induz a evitar o apego a dogmas e fanatismos. Afinal, a partir de nosso próprio desenvolvimento intelectual, nossa verdade atual poderá ser modificada amanhã. O melhor é aceitar que nossos raciocínios são sempre precários e dependentes da evolução da história. Aqui, humildade é a palavra chave.
Como pontificava Sidarta Gautama, também conhecido como Buda, feliz daquele que alcança superar o próprio ego. E a busca pelo sincero conhecimento impõe a superação da vaidade intelectual. O grande problema nisso é que, nas palavras de Jean-Jacques Rosseau, o ser humano nasce livre, porém, por toda parte encontra-se acorrentado. Acorrentado pelas pessoas que ama, pelas coisas que possui e pelas palavras que pronunciou.
Se por toda parte o ego escraviza e a vaidade acorrenta, o conhecimento liberta.
Sê livre, pois. Conheça!

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