sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Faça amor, não faça a guerra!

Afastadas as necessidades básicas de absorção de nutrientes e busca por abrigo, o primeiro, grande e principal problema existencial da humanidade, como desejo inconfesso e objeto de autocontenção repressora e produtora de neuroses, é o sexo.
O segundo, que decorre em grande parte do primeiro, é o poder. Quem tem poder, amplia sua possibilidade de se relacionar sexualmente.
O terceiro, que é produto dos dois primeiros, é o dinheiro. Sigam o dinheiro! É ele que compra o poder que por sua vez conduz ao sexo.
Esses três desejos, juntos, certamente respondem pela imensa maioria dos crimes cometidos e, possivelmente, arrisca-se a dizer, indiretamente por todos.

O processo repressor desses desejos forma uma eficaz linha de montagem, em escala industrial, de seres humanos desajustados, neuróticos e em constante conflito em relação ao que, erroneamente, aprenderam a entender como vício, como imoralidade, como pecado. Por quê?
A razão é localizada na circunstância de que a sociedade humana sacralizou o sexo de forma desmesurada e disso resultou que o indivíduo, não alcançando obter a contenção sexual irreal perseguida pela sociedade, e ao mesmo tempo constatando que a realidade demonstra que os poderosos são mais livres em relação ao sexo, passou a nutrir um intenso desejo pelo dinheiro e, consequentemente, pelo poder, ambos como símbolos do próprio valor individual e atratividade sexual, únicos meios de entregar-se à luxúria pecaminosa. Daí as frustrações neurotizantes, pois todos são desejos de difícil obtenção.
Entretanto, por mais que se tente afastar esse cálice de seus lábios sedentos, o fato é que seres humanos gostam de sexo. Na verdade, gostam muito e querem praticá-lo com muitas pessoas, em todos os lugares, em todas as posições e sempre que possível. O que os impede são as restrições impostas pelas grades morais da sociedade.
Especificamente em relação ao comportamento sexual, o ser humano, enquanto primata, certamente está mais próximo da sociedade dos simpáticos bonobos do que para os irascíveis chimpanzés e gorilas. Bonobos fazem sexo por prazer e como forma de socialização. Ninguém é de ninguém entre os bonobos.
Pelo que se observa na sociedade humana, essa parece ser também a sua natureza, que, todavia, é devidamente repudiada, com todas as consequências neuróticas que daí advêm, testemunhadas nos divãs psicanalíticos, nos balcões das drogarias, nos suicídios e nos diversos tipos de comportamentos considerados como socialmente desviantes.
Criou-se a imagem abjeta de que gostar de fazer sexo com várias pessoas representa promiscuidade. Isso não é verdade, trata-se de inclinação instintual e possui intensidade diferente entre as pessoas. Há quem goste muito, há quem não goste nem um pouco. A questão, contudo, cabe à esfera íntima de cada um, não cabendo a alguém imiscuir-se na atividade sexual do outro.
Não se pode conceber o sexo como pecado, de forma nenhuma. Sexo é natural, possui o poder de aproximar, de fabricar intimidades, de gerar afetos.
Seres complexos que são os seres humanos, porém, criaram-se variados tabus em relação ao ato sexual, no mais das vezes impulsionados pela histórica insegurança masculina e seu interesse na manutenção da propriedade (dinheiro e poder). Trata-se de uma modalidade de insegurança machista que poderia ser adequadamente denominada de síndrome do Cuco, pássaro que coloca seus ovos em ninhos alheios, para que outro tenha o trabalho de chocá-lo e criar o filhote. O filhote de Cuco, assim que sai do ovo, joga fora os ovos do hospedeiro para receber atenção exclusiva dos pais adotivos que nem sabem que são adotivos. Essa possibilidade aterroriza os homens desesperadamente.
Sem o tabu sexual, como se poderia ter certeza que o filho é daquele específico homem? Como saber se a propriedade está sendo transmitida por herança ao filho biológico e não ao filhote de Cuco?
São inquietações que deram origem a instituições como a monogamia, a fidelidade sexual e outras restrições mais perversas, que já chegaram a incluir cintos de castidade e direito do marido sobre a vida da esposa.
Ao lado disso, e com não menos importância, existia no passado o medo das doenças venéreas, que igualmente recomendava um comportamento sexual mais conservador e menos promíscuo.
Todo esse caldo cultural histórico de medos, inseguranças e doenças tornou o sexo um ato pensado, ainda que de modo subconsciente, como sujo e impublicável. Logo o sexo, que representa nada mais, nada menos, do que a perpetuação da vida.
Em geral, no modo natural, as vidas são iniciadas no percurso de uma vagina e é esse órgão que se torna o objeto da maior das pudicícias humanas, a mais recôndita das partes das pessoas, a mais indizível, a que menos se pode ver ou mesmo dizer, a que menos pode gozar.
Numa sociedade patriarcal, o pênis não se vê envolvido por carga de tamanho mistério e sacralidade. Ao pequeno menino é permitido sacar seu órgão genital de dentro do calção e, sem grandes pudores, urinar na frente de todos, que se rirão da sapequice. Faça uma menininha o mesmo e será admoestada por exibir sua vagina.
No entanto, sexo é vida! Não somente em função da reprodução, como pelo bem estar físico e psicológico proporcionado a quem o pratica de forma saudável e consentida.
É possível fazer sexo uma vida inteira com uma só pessoa e ser feliz? Sim, é perfeitamente possível e é ótimo. Por outro lado, é possível fazer sexo com várias pessoas ao longo da vida e ser feliz? Sim, isso igualmente é possível e pode se revelar ótimo também para quem optar por esse caminho.
Não existem receitas ou fórmulas mágicas sobre a mais adequada conduta sexual. A cada um compete escolher um modo próprio de orientar sua vida sexual que o faça feliz.
O que não cabe é violentar a própria natureza. Como diz o ditado, não existe almoço grátis. Tudo tem seu preço. E o preço da repressão é a neurose, com todos os malefícios que daí decorre sobre o desenvolvimento da vida.
Faça amor!
Se não quiser fazer, tudo bem, busque a ascese, seja casto, mas não imagine que possui o direito de criticar quem faz e a maneira que faz.
Não faça a guerra.

Nenhum comentário :

Postar um comentário