domingo, 3 de março de 2013

Meio ambiente e consumo


Há quem defenda a ideia de que a proteção ao meio-ambiente não deve constituir uma questão intocável, argumentando que o consumo humano aumenta diuturnamente, de modo que o uso dos recursos naturais deve ser considerado sob a perspectiva das necessidades humanas.
É um pensamento capaz de conduzir a humanidade à ruína.
Todo e qualquer tipo de consumo provoca, em última análise, efeitos daninhos no meio-ambiente. Um incremento na produção agro-pecuária implica o crescimento das fazendas e desmatamento. O aumento na produção industrial, independentemente do ramo, corresponde a uma necessária elevação da extração mineral, ou seja, devastação ambiental no entorno das minas.

Portanto, o crescimento econômico necessariamente produz aumento do passivo ambiental.
E quais as principais razões do crescimento econômico? O aumento populacional ou, mesmo com estagnação populacional, o aumento da renda média real da população. Essa última, porém, possui impacto menor em relação ao aumento da população, pois, ainda que a renda média progrida, se a quantidade de pessoas não for expressiva, o impacto da produção humana no meio-ambiente não será relevante. A equação é simples: menos gente, menor consumo. O pior cenário possível é o de aumento populacional com aumento da renda média real, caso em que o consumo irá aumentar duplamente para atender um número maior de pessoas com maior capacidade aquisitiva. Conclui-se, pois, que, o inimigo número um do meio-ambiente é o aumento populacional, que corresponde a uma pressão equivalente ou superior sobre o consumo.
Embora a degradação do meio-ambiente seja um problema criado exclusivamente pelo ser humano, é suportado por todos os demais seres vivos, que respondem com a própria vida, individual ou de toda a espécie, por algo cuja autoria não lhes pode ser atribuída.
A ordem jurídica humana reconhece o dever ético-legal do responsável pelo dano de repará-lo. A mesma responsabilidade ética é cabível em relação aos estragos produzidos na natureza. O ser humano causou, deve consertar.
Pouco importa, para o cumprimento desse dever de reparação, se há necessidade de imposição de algum sacrifício, como reduzir o consumo ou ficar sem energia elétrica, por exemplo. A redução ou mesmo paralisação do consumo é possível, exigindo apenas sacrifícios, enquanto viver num planeta totalmente degradado e poluído, não. Como comparar a redução do consumo à extinção de toda uma espécie, talvez da própria espécie humana?
A solução definitiva passa, não somente por uma reflexão profunda sobre a ausência de crescimento econômico, mas também sobre o início de um processo que conduza ao decrescimento econômico e populacional. Como conseguir isso?
O primeiro passo deve ser dado na direção da mudança de paradigma da ideia de consumo, passando de um consumo de futilidades para um consumo responsável, que atenda efetivas necessidades humanas e não meras vaidades. Há que enfrentar a questão da publicidade, que cria “necessidades” fúteis. Deve ser estudada a duração dos produtos, vedando o uso da obsolescência programada, ideia deletéria do setor industrial que projeta o produto para durar certo tempo e obrigar à reposição. Também deve ser duramente mitigada ou impedida a criação de atualizações de fachada, que pouco ou nada muda o produto e serve apenas para imprimir no consumidor o desejo de comprar o produto mais novo, fraudulentamente vendido como inovação.
Cabe também regular e direcionar o uso do capital, vedando a possibilidade de investimentos em papeis de cassino, como os derivativos, que não correspondam a efetiva produção.
O segundo e decisivo passo é a redução gradativa da população humana no planeta, através de programas de planejamento familiar. Num exemplo drástico, se cada casal tiver apenas um filho, a população será reduzida a menos da metade em apenas uma geração. Tal extremo seria inalcançável, mas demonstra que não é impossível um planejamento sério que busque o mesmo resultado em algumas gerações. Evidentemente, exige-se planejamento global, além de boa vontade dos países e suas populações. Pode-se imaginar, a partir da gradual redução de cada população, a facilitação dos movimentos migratórios da população remanescente pelos países como meio de homogeneizar a distribuição das pessoas pelo mundo e atender as necessidades de cada país.
O planeta Terra, vitimado pela ação da humanidade, já atingiu um ponto de comprometimento ambiental que, ao contrário do imaginam as pessoas que defendem a priorização das necessidades humanas, se encontra sim em situação que exige seja considerada intocável a questão da proteção do que restou do meio-ambiente. A avidez da humanidade permitiu um avanço na exploração das riquezas ambientais em porção muito maior do que a parte que nos cabia.
O que resta, por direito, é das demais espécies, que possuem idêntico direito à vida e à preservação de seu habitat.
Os seres humanos são considerados os únicos seres racionais do planeta. Como ser inteligente, deve utilizar sua razão para concluir que multiplicou-se em demasia. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Para cada ser humano nascido, milhares de outros seres vivos devem necessariamente morrer.
Somente vírus se multiplicam sem controle algum. Seres inteligentes não deveriam agir como uma infestação.

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