domingo, 6 de janeiro de 2013

O maniqueísmo da imprensa

A partir de uma análise restrita aos meus textos, é legítimo imaginar-me como um petista de "carteirinha", pronto a defender radicalmente o PT contra toda e qualquer crítica e posicionar-me a favor de todo ato ilegítimo praticado por algum representante do partido.
De fato, sou simpatizante do PT, mas não de forma acrítica. Não compactuo com atos ilícitos, com corrupção. É dever de todo cidadão repudiar desvios de conduta praticados contra a sociedade e contra o direito natural alheio.
Antes da segunda eleição de Lula, decepcionado com a falta de iniciativa do partido no sentido de promover uma reforma política profunda e com sua opção pela manutenção da velha política de acordos pela governabilidade com partidos nefastos, desisti de votar no PT e passei a votar no PSol, partido que se colocou no lugar simbólico dos antigos ideais petistas.

Na verdade, minhas defesas pontuais do PT embutem a defesa dos meus interesses como cidadão e, também, dos interesses da fatia mais necessitada do povo brasileiro, constantemente vilipendiada não somente pela voracidade corruptiva de determinados homens públicos, como pelo egoísmo infinito da parcela mais favorecida da sociedade, os membros da classe alta e da classe média.
O mais imediato dos interesses, com essa defesa, é impedir que nossa elite, formada pelas corporações e pelas classes alta e média, domine completamente o ambiente político, direcionando todas as políticas públicas para a satisfação de seus próprios fins e interesses egoísticos e narcísicos.
A partir da assunção do primeiro governo do PT, a imprensa, que historicamente, desde sua criação, sempre defendeu os interesses da elite, jamais do povo, impôs à pauta pública de discussões políticas o pensamento maniqueísta e falso de que tudo que vem do PT é ruim, e, consequentemente, de que nada que o partido fez durante os últimos doze anos foi bom para o país. Trata-se de evidente fraude jornalística que acendeu em meu espírito uma intensa luz de alerta sobre as intenções ocultas por detrás disso.
Qualquer pessoa medianamente inteligente percebe, até por instinto, que nada, absolutamente nada, é inteiramente ruim ou totalmente bom. Parcela considerável dos veículos de comunicação, ante a impossibilidade de esconder um sem-número de índices positivos durante a administração do PT, em seus aspectos econômico e social, tentam passar ao povo o sofisma de que são todos números que cresceram de forma favorável ao país em decorrência de mera continuidade dos fundamentos e projetos iniciados no governo do FHC. Quando nem isso conseguem, afirmam tratar-se de manipulação dos números. Significa dizer que o novo gerente da loja, embora mantendo a política de vendas do antecessor, não possui mérito algum por conseguir quadruplicar as vendas.
Quando as manchetes insistentemente batem na tecla de que tudo que vem do PT é ruim, por anos a fio, somente existem duas explicações possíveis: ou se trata de um jornalismo idiota, sem inteligência, ou de pura e simples manipulação da informação, de desonestidade intelectual com propósitos ocultos. Não acredito em jornalismo idiota generalizado.
Acolher essa fraude exige desacreditar índices extremamente favoráveis à economia e aos projetos sociais que, esmiuçados por organismos estrangeiros imparciais, são objeto de saudação e admiração. Na era da internet e de uma transparência da coisa pública cada vez maior, basta um clique para acessar os dados e informações. Somente tolos e desinformados são vítimas da manipulação midiática.
Há uma obrigação moral de todos na produção de contrainformação às distorções da realidade promovidas pela comunicação de massa. Exatamente por isso, ante a percepção da evidente exacerbação da costumeira falta de honestidade da imprensa majoritária, cabe a defesa do partido, não porque seja o PT, mas porque, tratando-se de um linchamento midiático promovido por veículos sem isenção alguma e com passado nebuloso de apoio à ditadura contra os interesses do povo, constitui um imperativo categórico que simboliza a defesa da própria democracia.
Ao contrário do que parece, a imprensa não é contra o PT, mas contra a política social implementada em seus governos, como sempre ocorreu historicamente com todos os governos que ousaram destinar parte de suas energias ao atendimento de demandas populares, como o de Getúlio ou de Jango.
A partir do testemunho de um noticiário tendencioso e desonesto, tomei a decisão de voltar a votar no partido. Ao menos até que essa fase de maniqueísmo desonesto se encerre.
Por força das circunstâncias, estou materializando a máxima de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Até quando, depende do inimigo.

Nenhum comentário :

Postar um comentário