quinta-feira, 31 de maio de 2012

Amparo


Se um dia disse algo um tanto estranho, tranquilize-se.
Não tenho compromisso com verdade ou com mentira.
O verdadeiro comove-me tão pouco quanto o falso.
Somente levo a sério o coração.

Se percebo em você a angústia de ouvir aquilo que não acredito,
Sinceramente minto e digo, como espécie de conforto.
Pois te amo.

Se desconfio de sua urgência em um gesto meu
Difícil, mas não impossível, faço-o, por que não?
Por que negar o socorro que, não solicitado em sua boca,
Vislumbro aflitivo em seus olhos irrequietos?

Seria um mal a mentira que conforta e apazigua?
Será um bem a verdade crua e destrutiva?

Entre dois males, elejo o causador de pouco dano
Pois não há sentido em dar sustento a infinita tristeza
Que solapa o espírito e atormenta a razão
Somente pelo fugaz orgulho da sinceridade.

Não, é claro que não.
Então, mentirei sempre
Quando a verdade causar dano e a mentira, alegria.
Porque a nua e crua sinceridade, muitas vezes,

É apenas pouco sutil sinônimo de grosseria.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Pico nevado

Um pico nevado, sombrio,
Desafiante e gelado,
Sem quase calor recebido,
De seu frio, produz água,
Que, abandonando a nascente,
Segue um caminho sem mágoa,
De curvas, cachoeiras e vales,
Perseguindo o sal do mar.
E, por cada margem que passa,
Produz um ponto de vida,
Deixa um perfume de graça
E faz, da paisagem, uma arte.

Um pico nevado, sombrio,

Do sombrio produz luz.

Desespero


Às vezes a vontade é a de não sentir nada. Deixar de processar o antigo e parar de experimentar o novo. Anestesia geral na alma.
Mudar de vida, mudar de nome, mudar de alma. Mudar tudo, de ponta à cabeça.
Morar num cubículo no Japão, solitário, sem falar uma palava de japonês, só para ter a certeza absoluta da incomunicabilidade. Como amiga, somente a solidão, a insidiosa companhia que pouco a pouco vai se tornando agradável, a cada momento com ela passado.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Cristovam Buarque e a tese do decrescimento


Cristovam Buarque, o senador da educação, defendeu a inovadora tese do decrescimento econômico.
Para quem nunca ouviu falar, trata-se de uma tese econômica segundo a qual o aumento constante do PIB dos países não é ambientalmente sustentável, de modo que, para entrarmos em equilíbrio com o ecossistema global, utilizando os recursos naturais de forma inteligente, a humanidade deve promover um gradual decrescimento de sua economia, e também de sua população total, até atingir um ponto - algo como o PIB da humanidade nos anos 1960 - em que fosse possível mantê-lo estabilizado para sempre.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O designer e a gambiarra


Algum tempo atrás, na verdade já há muito tempo, um grande amigo, designer, me falou sobre uma tese de mestrado, apresentada pelo também designer Rodrigo Boufleur na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, sugerindo o aproveitamento dos resíduos nobres do lixo para a produção do que ele denomina de “gambiarras”.
O nome técnico mais apropriado prima para as “gambiarras” é "produto idiossincrático”, pois são projetados de forma individualizada, segundo a perspectiva da realidade individual da pessoa a quem se destina. A própria coleta e seleção dos resíduos que irão compor o projeto final é realizada a partir de um propósito prévio, pensado em função de uma necessidade específica de determinada pessoa.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

James Lovelock e a hipótese de Gaia


A atmosfera primitiva de nosso planeta era muito diferente da atual.
No início, tratava-se de uma massa gasosa formada por diversos gases, como vapor de água, metano, amoníaco e hidrogênio, monóxido de carbono, dióxido de carbono e azoto.
Não havia oxigênio, de modo que, se uma máquina do tempo nos transportasse até aquele tempo, morreríamos em minutos ao respirar aquele ar super-tóxico.
Isso, contudo, não impediu que a vida se impusesse. Dentre as diversas espécies de microvidas que então surgiram, capazes de respirar naquela nuvem venenosa, houve uma que aspirava os gases tóxicos e expirava oxigênio. E, para nossa sorte, esse micro-organismo foi bem sucedido na batalha da sobrevivência e prevaleceu, continuando a excretar oxigênio durante milhões e milhões de anos. A minúscula criatura tanto pôs oxigênio para fora que encheu a atmosfera terrestre desse gás tão precioso para nós.

terça-feira, 1 de maio de 2012

A morte de uma criança e a terceirização do contrato de trabalho




A morte de pessoas em hospitais por erro médico ou falta de estrutura material é algo absolutamente corriqueiro no Brasil e vitima, inclusive, crianças. Dada a ocorrência rotineira, nem chega, propriamente, a ser notícia muito destacada na imprensa, a não ser que ocorra em situações especiais.
Foi exatamente assim no caso da morte de uma criança de treze anos ocorrida no Hospital Santa Lúcia, em Brasília, em meados de fevereiro desse ano (2012).
O menino, aparentemente saudável, teve uma crise de asma no colégio e, levado ao hospital, acabou por falecer.
Embora ainda não se saibam as exatas causas da morte, o fato é que o falecimento de uma criança em virtude de uma crise de asma, estando em tratamento numa UTI, é assustador.