terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Sou assim, sou mulher!


Gosto dos olhares masculinos lançados sobre mim, sobre o meu corpo. Aquele olhar faminto, sedento, desejoso, que fazem suas pupilas seguirem à velocidade do meu próprio passo, que, de propósito, faço ligeiramente rebolante, mas sem descambar para o vulgar.
Afinal, que mulher sinceramente pode afirmar não possuir uma íntima satisfação em ser desejada?
O prazer proporcionado por um vestido colante, que deixa à imaginação alheia o contorno do que vai por baixo, não está no que vejo no espelho, mas revela-se a mim no olhar do outro. Ou da outra. O olhar do outro é o verdadeiro espelho de Narciso.
Estremeço um pouco e o coração palpita levemente ao perceber a realização do que planejei quando longamente preparei-me para ser vista pelo mundo. Um longo e relaxante banho morno para purificar e acalmar.
O minucioso trabalho de delineamento da delicada maquiagem, que, realçando os contornos da face, traz à tona a magia e o mistério que toda mulher possui dentro de si, escondidos.
O cuidado com os cabelos, os cremes e a escovação que renovam o seu brilho e a sua forma, passando a enigmaticamente emoldurar o rosto então já envolto de segredos escondidos.
E as horas despendidas na escolha de cada peça a ser vestida, pois somente a feliz escolha de cada uma delas fará com que se harmonizem entre si e, juntas, atinjam o objetivo sonhado.
A sedução.
A fina lingerie sugerindo que a noite pode surpreender com algo mais. A meia-calça invisível que aperfeiçoa o que por si já é bem torneado. O leve vestido insinuante que, jogado sobre os braços levantados, suavemente desliza no corpo sob o efeito da gravidade, tornando-se uma segunda pele protetora, mas também, e antes de tudo, promissora.
Um lindo sapatinho, como de cristal, que faz desabrochar essa linda Cinderela que, no fundo, nós mulheres sonhamos ser. As joias e bijuterias brilhantes, que são o toque final desse ritual de lapidação que, num passe de mágica, faz-me abandonar a mulher comum que sou e torna-me uma fêmea, linda e sedutora.
Saio para a noite não como uma fera pronta para atacar e agarrar a presa, mas preparada para ser olhada e admirada.
Não almejo ser caçadora. Prefiro ser alvo. Dos olhares.
Desejada ou invejada, tanto faz.
E se, sendo alvo, for capturada, também capturei. Então aproveito, pois o prêmio é duplo.
Sou assim, sou mulher.
Sonho dormindo e sonho acordada, mas também construo o meu real.
O sorriso me é tão fácil na face, quanto as lágrimas que por ela escorrem. Sou de Marte e sou de Vênus, mas, no fundo, tenho os pés no chão da Terra.
A instabilidade emocional de que me acusam é apenas um meio de ser forte o suficiente para suportar as mais duras provas.
Adoro ser amada, porém, mais do que isso, anseio amar alguém.
Somente as almas desprovidas de suficiente sensibilidade não percebem que a futilidade associada a minha imagem é a maneira encontrada de preservar a sanidade. Não é futilidade, é necessidade incógnita.
Tenho que confessar meu péssimos momentos. TPM, frustração, parceiro incompreensivo, dieta pra perder peso, sei lá mais o que, tudo isso às vezes me deixa louca e tenho vontade de jogar um abajur na cabeça de alguém. Mas são momentos episódicos. No geral sou divertida, quero agradar, desejo sorrir.
Já disse: quero ser desejada. Não somente para o sexo, mas também como companhia, para uma bebida, para um papo descontraído.
Somente sou completa se não estou só.
E estar acompanhada não tem nada a ver com ter alguém. É ter companhia. Alguém que fale e, principalmente, me ouça.
Porque, para a mulher, ser ouvida é mais importante do que falar.
Sou assim, sou mulher.
Gosto disso, mas às vezes sofro.

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