segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Noblat x Toffoli - Falsa indignação

O colunista Ricardo Noblat (ou seria jornalista?), do jornal O Globo, algum tempo atrás, afirmou ter comparecido a uma festa onde também se encontrava presente o ministro Dias Toffoli, do STF. Nessa festa, teria escutado, sem ser visto, o ministro xingá-lo com os mais escabrosos palavrões.
Além desse episódio, Noblat produziu uma campanha em sua coluna exigindo que Dias Toffoli se declarasse suspeito no assim chamado Caso Mensalão, postando um vídeo no Youtube exigindo a suspeição do ministro. O link para o vídeo é indicado ao final do texto.
Posteriormente, fica-se sabendo que o ministro Dias Toffoli está julgando um caso em que a mulher de Noblat é ré. Um caso significativo, que gira em torno de trinta e três milhões de reais. Quem é o verdadeiro suspeito para a função, nesse caso? Toffoli, para julgar o mensalão, porque foi advogado do PT, ou Noblat, para acusar ou criticar o ministro, já que sua mulher pode ser julgada pelo ministro?

O caso de Noblat é um bom exemplo do tipo de imprensa que é a brasileira, desmoralizada, capaz de atribuir os fatos os contornos que interessa ao dono da mídia ou ao próprio jornalista. Jornalistas estão fabricando sucessivos escândalos contra um determinado grupo político, mas não em relação aos demais, ainda que se saiba que o grupo protegido também possua os seus malfeitos. Aparentemente, trata-se de um falso moralismo cujo interesse subjacente é o de derrubar quem está no poder e colocar em seu lugar outro grupo, de seu interesse, para dominar a "boquinha".
Tome-se como exemplo de antijornalismo, se comprovado, o caso do diretor da revista Veja, Policarpo, que, segundo notícias divulgadas na internet, teria se vinculado a uma pessoa com histórico criminal, o bicheiro Cachoeira, para produzir escândalos. Interessante observar que a revista, até estourar o escândalo do Cachoeira, o denominava utilizando o eufemismo de "empresário do ramo de jogos". O tal "empresário do ramo de jogos" está na gênese do escândalo do mensalão.
Tudo começou com uma gravação em que aparecia um servidor dos Correios recebendo propina. Esse servidor era ligado ao ex-deputado Roberto Jefferson que, flagrado, inventou o mensalão. O nobre ex-deputado já desdisse o mensalão em juízo, tendo insistido apenas na acusação de existência de um esquema de Caixa 2 de campanha. Pois bem, já se sabe que o flagrante de propina foi armado pelo "empresário de jogos" Carlinhos Cachoeiras. Obviamente, o empresário não foi movido por qualquer espírito público. Sua pretensão era fazer o seu grupo entrar nos Correios em lugar do grupo do Roberto Jefferson. A trama de Cachoeiras somente obteve sucesso por contar antecipadamente com o pleno apoio da revista Veja para dar repercussão ao fato.
Nenhum tipo de corrupção de corrupção. Quem fez, que pague. Porém, a imprensa brasileira deve ser acusada de utilizar sua função, que deveria ser nobre, com o objetivo de manipular a opinião pública e assim alcançar seus interesses ocultos, sem qualquer zelo verdadeiro pelo bem público.
O PT não é alvo do linchamento midiático por ter corrupção em seu seio. O PSDB tem mais casos, e mais caros para a nação, em seu currículo, mas a imprensa abafa, materializando o famoso bordão do Ricúpero, "o que é bom pro nosso grupo a gente publica, o que é ruim a gente esconde".
O mensalão do PSDB é apelidado de "mensalão mineiro" com a intenção de esconder o nome do partido envolvido. Para esse caso, que também envolve caixa 2 de campanha e é mais antigo no STF, a imprensa jamais clamou por um julgamento a toque de caixa, apesar do perigo de prescrição ser muito superior.
Quanto ao mensalão do PT, há muito perdeu o sentido continuar a chamá-lo de mensalão. Isso porque, o que era um problema de caixa 2 de campanha foi transformado em compra de votos para aprovação de projetos de lei do interesse do governo e agora, na fase final do processo, as pessoas estão sendo condenadas por outras motivações que não a compra de votos.
O deputado João Paulo, por exemplo, foi condenado por, supostamente, ter favorecido a empresa do Marcos Valério em uma licitação, ainda que não exista uma única prova do necessário "ato de ofício". Pelo contrário, demonstrou-se que houve licitação e a empresa de fato prestou os serviços. Resta aguardar se a ausência de prova do "ato de ofício" será interpretada da mesma forma no julgamento do Mensalão do PSDB, se houver.
Existem exemplos históricos de que a imprensa pode ser e é utilizada como meio de manipulação da opinião pública, como na ocasião do golpe militar de 1964, no curso do qual as manchetes de todos os grandes veículos de informação eram amplamente favoráveis aos golpistas, contra os interesses do povo.
A população deve ter cuidado com as notícias que recebe da imprensa, não cabendo acriticamente crer em algum fato noticiado somente porque alguém alfabetizado o escreveu num pedaço de papel jornal.
Escrever em jornal é muito fácil. Difícil é ter honra.

Link para o vídeo do Noblat:

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