terça-feira, 11 de outubro de 2011

A super-ética e a intolerância

Num texto publicado em grande blog da internet, uma pessoa, em tom indignado, narra a história de uma mulher que, aguardando atendimento num consultório médico, folheava uma revista quando, ao ver um vestido muito bonito, resolveu rasgar a página da revista a fim de guardar o modelo do vestido. Os comentários arrasavam a moça.
Parece que estamos muito exigentes com o comportamento alheio.
A pessoa rasga uma página de uma revista bolorenta de consultório e isso é o mote para falarmos sobre ética, moral, educação de crianças, as mazelas dos políticos, sobre e sobre e sobre... Caramba.
E pensar que às vezes tenho vontade de jogar fora, sem pedir licença, todas as revistas suadas que encontro pelos consultórios à fora... Sou um monstro e nem imaginava.
É meio preocupante o direcionamento que estamos dando ao tipo de sociedade que desejamos. Há uma onda de intolerância assustadoramente crescendo no mar dos temores sociais. Essa onda poderá nos afogar.
O país considerado como guardião das liberdades individuais (pelo menos era) agora usa raio x que desnuda as pessoas, monitora ligações telefônicas, manda matar os inimigos, utiliza prisões fora de seu território para não se submeter à própria justiça.
O politicamente correto torna praticamente tudo incorreto. Juízes censuram filmes, novelas não podem falar utilizar enfermeiras sensuais (a justiça proibiu, a pedido do conselho profissional), humoristas são despedidos por suas piadas.
O problema de começar a censurar os outros é que certamente um dia seremos censurados... e por nada.
Robespierre, no cadafalso, deve ter se arrependido de começar a nova moda de guilhotinar os inimigos. A moda alcançou ele.
Proponho uma nova onda: a onda da tolerância. O cara falou besteira? Deixemos pra lá. Todos falamos besteira um dia. A besteira é grande demais? Vamos derrubá-lo no argumento racional. Publicou uma biografia não-autorizada? Publique-se uma autorizada. A biografia contém alguma injúria? Peça-se indenização e divulgação da sentença. Alguém fez uma pequena besteira, como rasgar a página de uma revista velha e amarrotada? E daí?
Vamos lutar as boas batalhas e deixemos as ninharias de lado.
A tolerância é das maiores virtudes e vem sendo esquecida, perdida em meio aos nossos tantos temores injustificados. Tememos nossas sombras e, por conta disso, vamos paulatinamente deixando o Estado, esse insaciável, tolher nossas liberdades em nome de uma suposta segurança.

Estamos aceitando que o discurso da super-ética alcance o tom de uma piada. Como aquela velha piada, conhece?, a da moça condenada por rasgar uma página velha de revista de consultório.

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