terça-feira, 26 de outubro de 2010

Para o bem geral, política e religião não se misturam


O ser humano é naturalmente gregário e, mesmo antes do surgimento da fala, havia se habituado a viver em sociedade.
Australopitecos viviam em bandos estratificados por uma tênue organização do tecido social, que possuía um chefe, assim como hoje é observado em grandes primatas, como os chimpanzés.
Entre os chimpanzés há um líder do bando, o macho alfa (chefe), que é apoiado por um segmento de outros machos do bando (soldados), que o auxiliam a impôr sua liderança aos demais membros (cidadãos). Aos chimpanzés cidadãos resta apenas a responsabilidade pela criação dos filhotes, catação e extrativismo.

sábado, 23 de outubro de 2010

Carta para os meus vizinhos



Caros vizinhos, bom dia. Meu nome é Marcio e minha esposa se chama Luciana. Nossa família, nós e mais duas filhas, estamos residindo aqui nessa rua há pouco mais de um ano.
Conversando com minha esposa, estranhávamos o fato de, pela primeira vez em vinte anos, não sabermos o nome de qualquer vizinho depois de um ano morando no mesmo lugar.
Costumamos brincar nos chamando de ciganos, pois já moramos em oito endereços diferentes nos últimos dezessete anos. Em todos esses lugares, fizemos ao menos uma amizade. Mas não aqui, até agora. É pena pois gostamos muito desse lugar. Talvez seja mesmo o local de que mais gostamos. Contudo, nos ressentimos da falta de amizade entre os vizinhos. Não há descortesia, é claro, mas tampouco qualquer contato.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Eu acredito na homeopatia e meu tio, o saci pererê, também


É um absurdo as pessoas não acreditarem na homeopatia. Minha família a usa há cerca de duzentos e cinquenta anos e sempre funcionou. Meu pai, que é lobisomen, sofria de intensa azia quando sugava muito sangue. Após tratamento com homeopatia, pôde desfrutar de vários pescoços por noite sem qualquer problema.
Eu mesmo tinha uma mula sem cabeça que foi acometida de uma artrite na pata dianteira esquerda. Como, por motivos óbvios, ela não podia receber o tratamento via oral, injetamos nela uma solução homeopática intravenosa e rapidamente ela voltou a cavalgar, majestosa. Bem, talvez tenha passado a soltar um pouco menos de fogo pelas ventas (eu nunca entendi como é que mula sem cabeça podia ter ventas, mas o fato é que tinha).

Machado, Rubião e Sofia


Estive relendo Machado de Assis num desses dias chuvosos.
Há quem reclame de dias chuvosos. Não eu. Acho dias chuvosos indispensáveis. Ás vezes nossas agendas estão repletas de compromissos sociais que não queremos cumprir mas temos que cumprir para não magoar alguém querido. Dias chuvosos são uma ótima desculpa para faltar a esses compromissos e ficar em casa lendo, assistindo um filme, refletindo ou simplesmente fazendo nada, nem pensando. Nossos espíritos se engrandecem depois de dias chuvosos.

De cronistas e fatos cotidianos


Existem cronistas que possuem o dom, ao contar um acontecimento banal, de fazer isso de uma maneira tão tocante que emociona mesmo os leitores mais "durões".
O bom cronista pega um acontecimento diário qualquer, corriqueiro, como uma ida ao supermercado, por exemplo, e o narra de uma tal forma doce, com tanta ternura e prenhe de encantamento, que, para o leitor, a história parece ser única, exclusiva, um momento que jamais se repetirá. Muitas vezes, porém, não é nada disso, tratando-se simplesmente de uma narrativa de fatos rotineiros, do tipo que acontecem com todos nós, quase todos os dias.

De amores inventados


Cazuza, vocês se lembram, cantou "adoro um amor inventado". Porém, peço perdão ao poeta, que tão precocemente nos deixou, para dele divergir.
O amor não se inventa, não, nunca.
Pode até mesmo nascer da carência de um coração despossuído, mas jamais se cria de um vazio da mente ou pelo vácuo de um sem-sentido de existir.
O verdadeiro amor não é planejado, ele simplesmente acontece. E não há "disciplina" que o contenha, que o regule.

Olhar




Olhe lá, bem ao longe,
Na curva horizontal onde se perde o mundo
Lá, bem onde costumamos buscar o nosso bem,
Que está sempre, no entanto, um passo além.

Olhe para trás, vire a cabeça,

Ana Carolina

Estava agora há pouco escutando a Ana Carolina e o Seu Jorge cantando "É isso aí" e lembrei-me de um artigo do Artur Xexéo publicado em uma revista de domingo do jornal O Globo, já bem antigo, em que ele criticava essa canção e também a própria Ana Carolina.
Entre outras coisas, dizia que a música tocava demais nas rádios, o que era enjoativo. Além disso, a letra da música era incompreensível (por exemplo, segundo ele, o que quer dizer "Um vendedor de flores ensinar seus filhos a escolher seus amores"? E o que significa "Eu não sei parar de te olhar"? A pessoa pode não conseguir parar de olhar, mas... não saber parar de olhar?).