quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Para que servem as palavras?


Para que servem as palavras?
Segundo Leibniz são duas as suas utilidades. Uma é falar a nós mesmos, organizando nossos pensamentos e auxiliando nossas memórias. A outra é comunicar nossos pensamentos para as outras pessoas.
Quando falamos conosco mesmos as palavras são perfeitas, pois sabemos exatamente o que quisemos dizer com cada uma delas. Nós entendemos a nós mesmos perfeitamente.
Contudo, quando transmitimos nossos pensamentos para as outras pessoas as palavras são imperfeitas, pois nem sempre conseguimos comunicar exatamente o que pensamos. Acontece das pessoas interpretarem as palavras com um significado que a elas não imprimimos em nossas mensagens.
Não se trata de um defeito do transmissor ou do receptor mas das próprias palavras, que são limitadas em relação às infinitas possibilidades de mensagens diferentes. Essa infinitude conduz as pessoas a utilizarem a mesma palavra para significados diversos. Laranja pode ser uma cor, mas também uma fruta. Essa diversidade de significações é a raiz do problema da comunicação.
Outro grande problema é a impossibilidade de falar ou escrever exatamente o que pensamos. Muitos fatores externos impedem a livre manifestação do pensamento. Sem adentrar no mérito se trata-se de constrangimento bom ou ruim, o fato é que temos que realizar pensamentos elaborados para expressar nossas opiniões a fim de evitar problemas com preconceitos sobre sexo, drogas, aborto, racismo e por aí vai. Costuma-se chamar isso de hipocrisia ou, hipocritamente, de cautela. A hipocrisia, um vício, pode ser um mal necessário, mas não é a mesma coisa que cautela, uma virtude.
Quando fraudamos o nosso próprio pensamento sobre um determinado campo da moral, isso é hipocrisia. Por exemplo, considerável parcela dos homens aprecia ninfetas ou dizem-se heterossexuais quando, na verdade, possuem inclinações homossexuais, mas não podem admitir isso socialmente, uma vez que depõe contra a moral vigente. Assim, o homem moralista, ao observar outro homem, maduro, relacionar-se amorosamente com uma mulher mais nova ou com outro homem, e pretendendo emitir uma crítica contra essa relação, será obrigado a um esforço de maior complexidade mental para elaboração de seu discurso, porque contrariará o que de verdade pensa e deseja. É possível, portanto, que sua crítica seja exprimida de forma truncada e contraditória, ao mesmo tempo desabonadora e favorável ao objeto criticado.
Quanto mais elaborado o pensamento, mais as palavras se tornam imperfeitas. Não é à toa que existem diversas correntes doutrinárias em várias ciências, como Direito, por exemplo, nas quais cada doutrinador ou exegeta interpreta as mesmas palavras, oriundas da mesma fonte, de uma forma diferente. Os sofistas eram craques na utilização de pensamentos elaborados com aparência de correção cujo propósito era enganar o interlocutor.
Enfim, as palavras servem para comunicação interna ou externa, mas somente podemos confiar inteiramente na comunicação interna. Sempre dizemos a verdade para nós mesmos, ainda que achemos que não.

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