terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ana Carolina

Estava agora há pouco escutando a Ana Carolina e o Seu Jorge cantando "É isso aí" e lembrei-me de um artigo do Artur Xexéo publicado em uma revista de domingo do jornal O Globo, já bem antigo, em que ele criticava essa canção e também a própria Ana Carolina.
Entre outras coisas, dizia que a música tocava demais nas rádios, o que era enjoativo. Além disso, a letra da música era incompreensível (por exemplo, segundo ele, o que quer dizer "Um vendedor de flores ensinar seus filhos a escolher seus amores"? E o que significa "Eu não sei parar de te olhar"? A pessoa pode não conseguir parar de olhar, mas... não saber parar de olhar?).

Bom, simplesmente sou fã de carteirinha do Xexéo. Sou um de seus dezessete leitores assíduos. Mas, convenhamos, aí ele pisou na bola. Tanto pela crítica deselegante a uma de nossas maiores cantoras, como pelo viés da análise da pura estética.
"É isso aí" é uma canção é simplesmente maravilhosa. Chega ao fundo da alma de qualquer pessoa. Bem, quase qualquer pessoa, pois o Xexéo não a aprecia.
E Ana Carolina canta de maneira extremamente profunda. Sua voz não é produzida pelas cordas vocais. É uma voz que vem do coração. Posso até concordar que, em algumas ocasiões, ela grita. Porém, quando o faz, é porque o grito é necessário. Dá consistência à canção. Torna real a emoção por ela sentida. Transforma algo imaterial, a escrita do papel, em algo humano: sentimento. Por vezes, nossos sentimentos gritam por desespero, por atenção, até mesmo por felicidade.
Quanto à letra da música, decepcionante o grande Artur Xexéo tentar traduzir uma poesia pela literalidade da escrita. Poesia se sente. Poesia e melodia juntas formam um conjunto de signos não passíveis de compreensão pela razão; devem ser percebidas e absorvidas pela sensibilidade.
Mas, tudo bem, continuo fã do Xexéo.
Obrigado, Ana Carolina e Seu Jorge. Essa canção é tudo de bom.

Nenhum comentário :

Postar um comentário