Estava
agora há pouco escutando a Ana Carolina e o Seu Jorge cantando "É
isso aí" e lembrei-me de um artigo do Artur Xexéo publicado em
uma revista de domingo do jornal O Globo, já bem antigo, em que ele
criticava essa canção e também a própria Ana Carolina.
Entre
outras coisas, dizia que a música tocava demais nas rádios, o que
era enjoativo. Além disso, a letra da música era incompreensível
(por exemplo, segundo ele, o que quer dizer "Um vendedor de
flores ensinar seus filhos a escolher seus amores"? E o que
significa "Eu não sei parar de te olhar"? A pessoa pode
não conseguir parar de olhar, mas... não saber parar de olhar?).
Bom,
simplesmente sou fã de carteirinha do Xexéo. Sou um de seus
dezessete leitores assíduos. Mas, convenhamos, aí ele pisou na
bola. Tanto pela crítica deselegante a uma de nossas maiores
cantoras, como pelo viés da análise da pura estética.
"É
isso aí" é uma canção é simplesmente maravilhosa. Chega ao
fundo da alma de qualquer pessoa. Bem, quase qualquer pessoa, pois o
Xexéo não a aprecia.
E
Ana Carolina canta de maneira extremamente profunda. Sua voz não é
produzida pelas cordas vocais. É uma voz que vem do coração. Posso
até concordar que, em algumas ocasiões, ela grita. Porém, quando o
faz, é porque o grito é necessário. Dá consistência à canção.
Torna real a emoção por ela sentida. Transforma algo imaterial, a
escrita do papel, em algo humano: sentimento. Por vezes, nossos
sentimentos gritam por desespero, por atenção, até mesmo por
felicidade.
Quanto
à letra da música, decepcionante o grande Artur Xexéo tentar
traduzir uma poesia pela literalidade da escrita. Poesia se sente.
Poesia e melodia juntas formam um conjunto de signos não passíveis
de compreensão pela razão; devem ser percebidas e absorvidas pela
sensibilidade.
Mas,
tudo bem, continuo fã do Xexéo.
Obrigado,
Ana Carolina e Seu Jorge. Essa canção é tudo de bom.
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